Vídeo Institucional ASF
Nos termos do artigo 47.º dos Estatutos aprovados pelo Decreto-Lei n.º 1/2015, de 6 de janeiro, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões coloca em consulta pública o projeto de Norma Regulamentar que estabelece os índices trimestrais de atualização de capitais para as apólices do ramo "Incêndio e elementos da natureza" com início ou vencimento no primeiro trimestre de 2026.
A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) publica o Relatório de Movimento de Registo referente ao primeiro semestre de 2025.
Realizou-se hoje, 22 de setembro de 2025, a cerimónia de apresentação pública do novo Presidente do Conselho de Administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), Gabriel Bernardino, sucedendo a Margarida Corrêa de Aguiar, cujo mandato chegou ao seu termo.
Do Risco à Resiliência: A Jornada da Inovação Responsável no Setor Segurador
Senhoras e senhores,
É com enorme satisfação que participo nesta conferência dedicada à inovação e à transformação digital no setor segurador – um tema que considero absolutamente central para o futuro da nossa atividade.
Gostaria de começar por felicitar a Universidade Católica pela organização desta iniciativa e por reunir um conjunto tão relevante de participantes: representantes das associações do setor, parceiros tecnológicos, académicos e profissionais que, como eu, acreditam no potencial transformador da tecnologia.
Vivemos um período de transformação digital acelerada. A inovação tecnológica deixou de ser uma opção estratégica para se tornar numa necessidade estrutural. As seguradoras estão a investir na modernização da sua cadeia de valor, incorporando soluções que promovem agilidade, eficiência e proximidade ao cliente.
Contudo, esta transformação não é homogénea. A capacidade financeira, os recursos humanos e técnicos, a qualidade dos dados, a literacia digital – tanto interna como externa – e a própria regulação são fatores que condicionam a velocidade e profundidade da mudança.
Paralelamente, assistimos ao nascimento de um ecossistema de insurtechs, que trazem uma abordagem ágil e centrada no cliente. Estas empresas, muitas vezes pequenas em dimensão, mas grandes em ambição, desafiam os modelos tradicionais, redesenham a jornada do consumidor e empurram os operadores incumbentes para soluções mais inovadoras.
Este movimento é saudável e necessário. A inovação não se faz apenas dentro das organizações, mas também através da colaboração com quem pensa fora da caixa.
Mas a digitalização, como sabemos, traz não só oportunidades, como também novos riscos – ou acentua os já existentes. Falo de riscos cibernéticos e operacionais, riscos de governação e subcontratação, riscos de discriminação e exclusão financeira, e riscos sistémicos associados à concentração de prestadores tecnológicos.
A utilização de inteligência artificial, especialmente na sua vertente generativa, levanta preocupações adicionais: desde a qualidade dos dados à supervisão humana, passando pela transparência e explicabilidade dos algoritmos.
Internamente, as seguradoras enfrentam desafios estruturais que não podemos ignorar. Os sistemas legados, pouco escaláveis, dificultam a inovação. A superfície de ataque digital aumenta, os ciberataques tornam-se mais complexos, e a dependência de fornecedores de IT representa um risco sistémico. A redução das interações humanas pode comprometer a supervisão e a empatia, e a qualidade dos dados – que são hoje o verdadeiro combustível das organizações – torna-se crítica.
Mas há também oportunidades claras e promissoras. A modernização tecnológica traz ganhos de eficiência operacional. O reforço da segurança e da conformidade é possível. A integração e interoperabilidade de sistemas permite uma visão mais holística. A tomada de decisão estratégica pode ser apoiada por informação em tempo quase real. E há espaço para reforçar a literacia digital em toda a organização, avaliar a exposição a terceiros, garantir a continuidade do negócio e reposicionar a cadeia de valor com foco na segurança da informação.
Neste contexto, a regulação assume um papel determinante.
O Regulamento DORA vem uniformizar e harmonizar as exigências relativas à segurança das redes e sistemas de informação no setor financeiro. Impõe requisitos robustos de resiliência operacional digital, gestão de riscos tecnológicos, supervisão de terceiros e notificação de incidentes. Mais do que uma obrigação, é uma oportunidade para reforçar a confiança e a robustez do setor.
O AI Act, por sua vez, introduz uma estrutura baseada no risco, que distingue claramente entre sistemas de alto risco e sistemas de risco limitado ou mínimo. No setor segurador, esta distinção é particularmente relevante, uma vez que apenas algumas aplicações – como a avaliação de risco e a fixação de preços para seguros de vida e de saúde são classificadas como de alto risco. Estas aplicações estão sujeitas a um conjunto rigoroso de obrigações legais.
Para os sistemas de alto risco, os requisitos incluem: gestão específica dos riscos, governação robusta dos dados, documentação técnica detalhada, manutenção de registos, supervisão humana contínua e garantias de transparência, robustez e cibersegurança. Além disso, os fornecedores destes sistemas devem implementar sistemas de gestão de qualidade, realizar avaliações periódicas de conformidade e comunicar com as autoridades competentes. Esta abordagem visa mitigar os riscos para os direitos fundamentais, a segurança e a integridade dos processos decisórios que envolvem indivíduos.
Por outro lado, os sistemas de IA que não se enquadram na categoria de alto risco – como os utilizados em tarefas administrativas, apoio à decisão ou análise de padrões – estão sujeitos a requisitos mais leves, centrados sobretudo na transparência e na explicabilidade. Nestes casos, recomenda-se a adoção de boas práticas voluntárias, como códigos de conduta, sem imposição de obrigações legais tão exigentes. Esta dicotomia regulatória permite que a inovação tecnológica avance de forma proporcional ao risco envolvido, promovendo a confiança dos consumidores e a responsabilidade das entidades seguradoras na utilização da IA.
Em minha opinião, a gestão de risco deve ser proporcional à complexidade e impacto dos sistemas utilizados, promovendo uma cultura de responsabilidade e inovação consciente. A inteligência artificial não deve ser vista apenas como uma ferramenta de eficiência, mas como um elemento estratégico que exige supervisão contínua, avaliação crítica e compromisso com os princípios fundamentais da ética. Só assim será possível garantir que os avanços tecnológicos contribuem para um setor mais resiliente, justo e centrado no cliente.
A transformação digital é inevitável. Mas não é apenas tecnológica – é cultural, estratégica e humana. Parte das pessoas, vive nos processos e reflete-se na relação com o cliente.
As seguradoras que não acompanharem esta evolução arriscam perder competitividade, relevância e, em última instância, os seus clientes.
A supervisão e a regulação devem acompanhar este movimento com proximidade, flexibilidade e visão. Devem identificar a inovação, compreender os seus impactos e, quando necessário, ajustar o quadro regulatório para promover eficiência sem comprometer a proteção do consumidor.
É neste espírito que a ASF irá consolidar a sua estratégia para o futuro. A nossa visão é clara: queremos ser um regulador de referência, pilar da confiança no sistema financeiro, posicionando-nos na vanguarda da supervisão para garantir um mercado sólido, inovador e centrado nas pessoas.
Acreditamos que a tecnologia e os dados devem ser utilizados para agir de forma preditiva e ágil, promovendo a inovação segura em benefício dos consumidores.
Na era digital, assumimos o papel de catalisadores da inovação responsável. Supervisionamos com rigor os novos riscos tecnológicos, com especial atenção à resiliência operacional e aos desafios da inteligência artificial. Mas, ao mesmo tempo, trabalhamos para criar um ambiente que favoreça a inovação segura, que beneficie o consumidor e que fortaleça o mercado.
Abraçamos o potencial da tecnologia para criar valor. Monitorizamos ativamente os desenvolvimentos e procuramos habilitá-los com segurança, através de um quadro regulatório claro, transparente e confiável. A inteligência artificial, em particular, merece a nossa atenção especial: queremos que o seu uso se traduza em soluções mais justas, acessíveis e centradas nas pessoas.
E para que tudo isto seja possível, estamos a transformar a nossa supervisão através da utilização estratégica de dados. Acreditamos que a supervisão do futuro será preditiva, inteligente e eficaz. Para isso, estamos a consolidar a nossa infraestrutura tecnológica e a evoluir as ferramentas de análise, sempre com um foco claro: antecipar riscos e atuar com rapidez e precisão.
Senhoras e senhores,
A transformação digital é um caminho exigente, mas é também uma oportunidade única para reposicionar o setor segurador como um pilar de confiança, inovação e valor social. A ASF está comprometida com este futuro, e com todos os que nele acreditam.
Muito obrigado.
Senhor Ministro de Estado e das Finanças, Professor Joaquim Miranda Sarmento
Senhora Presidente cessante da ASF
Senhor Presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários
Senhor Vice-Governador do Banco de Portugal
Senhora Presidente do Conselho de Finanças Públicas
Minhas Senhoras e meus Senhores,
É com grande honra e elevado sentido de responsabilidade que hoje assumo a liderança da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Faço-o com plena consciência dos desafios, mas também com a firme convicção da relevância destes setores para a resiliência da economia e para a proteção dos cidadãos e das empresas.
A minha primeira palavra é de agradecimento ao Governo, na pessoa do Senhor Ministro de Estado e das Finanças, pela confiança que em mim depositou para esta missão.
Dirijo um especial reconhecimento à minha antecessora, Dra. Margarida Corrêa de Aguiar, pela dedicação com que serviu esta instituição. Agradeço-lhe, ainda, a forma profissional como conduziu esta transição, um gesto que dignifica a ASF e o serviço público, aproveitando para lhe desejar os maiores sucessos futuros.
Saúdo os meus colegas no Conselho de Administração, Dr. Rui Baleiras, Dr. Diogo Alarcão e Dra. Paula Vaz Freire, com quem terei o gosto e o privilégio de construir um caminho novo, em conjunto com toda a equipa da ASF, alicerçado nos valores do serviço público, da integridade e da transparência, e pautado por um diálogo construtivo e permanente com o mercado, os consumidores e a sociedade.
Minhas senhoras e meus senhores,
Como já tive oportunidade de afirmar publicamente, a minha visão para o futuro da ASF assenta em três pilares essenciais. O primeiro, assegurar uma supervisão independente e rigorosa. O segundo, fomentar a proteção e a resiliência social e económica. E o terceiro, impulsionar a transformação digital, a eficiência e o talento.
Para concretizar esta visão, e em linha com as melhores práticas internacionais, a supervisão será dinâmica e baseada no risco, orientando os seus recursos para as áreas de maior criticidade, definidas pelo binómio risco-impacto. Este modelo exige supervisores com elevado espírito crítico e conhecimento do mercado, pois a aplicação automática de matrizes de risco gera uma falsa sensação de segurança, sendo muitas vezes incapaz de capturar as ameaças emergentes e mais complexas.
Esta mesma lógica de evolução reflete-se na supervisão da conduta de mercado, que transita internacionalmente de um modelo focado na avaliação dos processos e da governação para um centrado nos resultados. Neste contexto, aprofundaremos a nossa análise do impacto real dos produtos e serviços nos consumidores, assegurando uma proteção substantiva — que se materializa em resultados justos e adequados — e não numa mera formalidade.
Assumimos, também, a simplificação regulatória como um objetivo estratégico, sempre salvaguardando a estabilidade financeira e a proteção do consumidor. Analisaremos o quadro regulamentar nacional para averiguar se os requisitos que excedem a base europeia se justificam pelo benefício que trazem, sem criar encargos desproporcionais que inibam a competitividade e a inovação.
Finalmente, continuaremos a assumir a nossa participação ativa na Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma e no sistema europeu de supervisão como um pilar estratégico. Garante-nos uma visão global dos riscos, impulsiona a nossa modernização e torna-nos um supervisor mais influente e eficaz. No plano nacional, continuaremos a reforçar a cooperação com o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários no âmbito do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, pois uma visão integrada dos riscos é indispensável para a estabilidade do sistema financeiro.
Minhas senhoras e meus senhores,
Os seguros e os fundos de pensões são pilares da resiliência das sociedades modernas, com uma dupla função: proteger o presente e financiar o futuro. Através da mutualização de riscos, funcionam como um amortecedor sistémico contra choques individuais; ao mesmo tempo, o seu capital paciente, investido a longo prazo, é o motor do crescimento económico. Em Portugal, este papel já é vital, com os setores a gerir conjuntamente no final do ano passado cerca de 74 mil milhões de euros e a devolver anualmente 12 mil milhões à sociedade em indemnizações e pensões.
Contudo, esta importante dimensão esconde profundas lacunas de proteção. A primeira é o nosso paradoxo: somos aforradores, mas não somos investidores de longo prazo. Os resultados são um mercado de seguros que precisa de crescer 50% para atingir a média europeia, e fundos de pensões estagnados há mais de uma década. O custo desta inércia é uma imensa oportunidade perdida: mais de 70 mil milhões de euros que poderiam deixar os depósitos bancários de baixo rendimento para reforçar as futuras pensões dos portugueses e financiar a nossa economia.
A segunda grande lacuna é a nossa falta de proteção contra catástrofes naturais, agravada pelas alterações climáticas. A solução, inspirada em modelos internacionais de sucesso, passa por um sistema de responsabilidade partilhada entre o setor privado e o Estado. Neste modelo, alavanca-se a capacidade global do mercado segurador para cobrir a esmagadora maioria das perdas, e o Estado atua apenas como garante de última instância, assegurando uma recuperação mais rápida e pré-financiada que protege a estabilidade de todos.
Aqui chegados, mais do que procurar culpados no passado, importa definir o contributo que cada um de nós pode dar para construir um futuro mais resiliente.
Começando por nós, os reguladores, o nosso compromisso é evoluir para uma visão mais moderna e abrangente da nossa missão em que as lacunas de mercado são vistas como um verdadeiro risco para a proteção dos consumidores, sobretudo os mais vulneráveis. Esta nova visão implica também uma nova forma de comunicar: mais clara, mais próxima dos cidadãos e capaz de mobilizar a sociedade para a importância destes temas.
Do mercado, esperamos um contributo decisivo para a confiança, apostando na transparência para superar o estigma das "letras miudinhas" e na formulação de novos produtos, mais simples, com estratégias de investimento mais adequadas e comissões que não corroam a rentabilidade a longo prazo.
Do poder político, espera-se liderança e coragem para enfrentar a “tragédia do horizonte”, que gera resistência a medidas com custos imediatos e benefícios futuros.
E, por fim, da sociedade civil, que, ancorada nas urgências do presente e com baixa literacia financeira, mantém a crença quase messiânica de que, no fim, "o Estado resolverá" — deseja-se uma maior consciencialização dos riscos por forma a gerar a exigência pública que tornará a inação insustentável.
A ausência de reformas estruturais é um verdadeiro fracasso coletivo. Quebrar este círculo vicioso exige um esforço conjunto, para que o país assuma que a resiliência de amanhã se constrói hoje. E posso garantir-vos: a ASF assumirá plenamente as suas competências para fazer a sua parte.
Mas novos desafios se perspetivam que exigem inovação por parte da regulação e do mercado. O envelhecimento da população é um dos exemplos mais prementes e a ASF verá como muito positivo o desenvolvimento pelo mercado de soluções inovadoras adaptadas aos novos paradigmas da longevidade.
Por exemplo, na desacumulação inteligente da poupança, criando opções flexíveis que permitam converter o capital acumulado em diferentes formas de rendimento, adequadas às várias fases e necessidades da longevidade, cobrindo os custos da dependência e dos cuidados de saúde de longa duração.
Ou na oferta de soluções como a hipoteca inversa, que permitam desbloquear o património imobiliário dos nossos idosos, muitos deles "ricos em património, mas pobres em liquidez". A criação de um quadro regulamentar claro e seguro para a hipoteca inversa é uma necessidade social urgente para garantir a muitos cidadãos dignidade e autonomia na longevidade. É fundamental que as seguradoras, as entidades mais preparadas para gerir o risco de longevidade, sejam chamadas a desempenhar um papel central neste novo mercado.
A minha derradeira palavra é, naturalmente, para os colaboradores da ASF. Na última vez que estive nesta sala, em 2011, despedia-me do então Instituto de Seguros de Portugal para abraçar um desafio europeu.
Regresso agora com a mesma motivação e compromisso, e com uma certeza reforçada: a capacidade de um regulador cumprir a sua missão depende inteiramente do valor das suas pessoas.
O sucesso dos próximos anos será construído com a competência e a dedicação dos nossos quadros. Precisamos da sabedoria e da memória institucional dos mais experientes, e da energia e vontade de inovar dos mais jovens. É a combinação destas duas forças que fará da ASF uma autoridade de futuro, mais ágil e com maior impacto.
Conto com todos para criar um ambiente de trabalho participativo, estimulante e aberto à inovação e para juntos, construirmos um novo caminho.
Muito obrigado.
A Senhora Presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), Dra. Margarida Corrêa de Aguiar, concedeu uma entrevista ao Jornal Económico, onde fez um balanço dos últimos seis anos da vida da Instituição, recordando os desafios enfrentados e abordando temas estruturantes para o futuro do setor.
Consulte a entrevista da Presidente da ASF
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